🗣️Fala, Helê 👩🏾🦳
Tem sido difícil escrever por aqui. Tudo que começo parece pessoal demais, íntimo num nível que talvez não interesse a mais ninguém.
Além de desinteressante, acho ruim. Pode ser só impaciência - a tristeza pode assumir diferentes formas, sabia? Medo, irritação, cansaço, you name it. Tristeza cansada de ser triste mascarada de outra coisa.
Também pode ser ele, o luto, um estado de espírito na acepção mais literal que a expressão pode carregar: uma condição temporariamente permanente da alma. Pode mesmo ser temporária, mas já sei que, quando passar, não serei mais a mesma pessoa de antes.
Nunca mais e Pra sempre, abismos que confronto várias vezes ao dia, impassíveis e esmagadores. Justo eu, sempre tão librianamente inclinada considerar possibilidades, alternativas, opções, tenho que lidar com a violência da morte e seus absolutos, definitivos. Nunca mais. Pra sempre.
O luto é um estirão que a gente a gente atravessa sozinho, inescapavelmente. Apoio, carinho, atenção, amizade, tudo isso faz uma diferença enorme nos momentos de desespero e desesperança. Mas não tem atalho nem desvio, parece intransponível e é incontornável. Um estirão que se atravessa sozinho.
Helê, fale do luto se sentir vontade. Eu sempre leio textos sobre esse assunto porque acredito que nunca saí direito do luto pelo meu pai (e faz tanto tempo!) e ler nos irmana. Se quiser escrever, pode ter certeza que interessa a mais pessoas. Um abraço forte em ti, querida.
Tudo que é íntimo e pessoal é também universal. Parece um paradoxo, não? Mas é porque somos todos humanos. Sofremos com a mesma dor que outros humanos sofrem e sofreram no passado (a dor que um dia deixei pra você, parodiando o grande Chico Buarque), apenas a versão é diferente, porque as pessoas são diferentes, mesmo sendo iguais – o que é outro paradoxo. E sim, o luto é um estirão que se atravessa sozinho. Assim como a morte, a mais solitária das experiências humanas. E a última.