🗣️Fala, Monix👩🏻
Uma coisa que pouca gente imagina sobre mim é que eu tenho o hábito de assistir novela. Quem me conhece sabe e tal, mas é o tipo da revelação que costuma surpreender as pessoas. Acho que realmente não tenho cara de noveleira, enfim.
Mas é mais que isso: agora que os streamings estão por aí cheios de conteúdo vintage, eu tô curtindo acompanhar novelas antigas. E por antigas eu quero dizer antigas mesmo, coisa de trinta, quarenta anos atrás.
É como entrar num túnel do tempo que dá acesso a memórias que eu de fato tenho. É não só lembrar de comportamentos hoje impensáveis e gírias que sumiram do nosso vocabulário, mas também, e principalmente, rever lugares de um Rio de Janeiro que nem parece que já existiu.
Lá em casa não nos era permitido assistir a novela das oito (naquela época tudo começava mais cedo). Além dos temas mais ousados, meus pais não gostavam de deixar a TV ligada durante as refeições, então jantávamos e só depois íamos ver os enlatados da vez, o Jô Soares, o Chico Anysio. Talvez por isso eu tenha uma preferência pelos clássicos do horário, que não tive oportunidade de acompanhar na época, como Dancin Days, Pecado Capital e agora Baila Comigo.
Eu não vi a novela, mas essa trilha sonora tocou muuuito na minha vitrola
Outro dia o fridinho estava aqui especulando sobre os motivos de a Rede Globo investir tanto em remakes de novelas, em vez de apostar em histórias novas. Devem ter lá seus motivos (assim como Hollywood prefere as franquias e tal). Ano que vem vai ter outra versão de Vale Tudo — essa eu acompanhei na época e já vi de novo, em plena pandemia. Difícil imaginar algo tão impactante quanto o whodunnit mais famoso da história da TV brasileira, que mobilizou o país no final dos anos 1980, se repetindo nessa época de entretenimento difuso e dominado por algoritmos. A conferir.
PS: Esta semana tivemos uma avalanche de gente nova chegando por aqui. Fiquem à vontade, puxem uma cadeira e podem entrar na conversa :)
Ah, se quiserem conhecer mais sobre nós, tem quase vinte anos de bloguices aqui (o blogue está abandonadinho no visual, mas a gente tem muito carinho pelo conteúdo). E se você só recebe a newsletter por e-mail, pode ver tudo o que andamos falando no último ano aqui.
PS2: E não é que o Twitter foi de Americanas? Bem, eu já tinha desistido daquilo lá desde as eleições de 22, por motivos de (falta de) saúde mental pra acompanhar tanto ruído. Estou na rede do céu azul desde então, meio silenciosa, mas agora que tenho companhia até tenho postado uma coisinha ou outra. Se quiser espiar, be my guest.
🗣️Fala, Helê 👩🏾🦳
Seguindo o que me parece uma tendeça aqui nesta plataforma, em que é comum seção de links/dicas, aqui vão indicações de coisas bacanas que li, vi, ouvi nos últimos dias.
Eu gostaria de saber, sinceramente, se houve alguma conjunção astral específica no céu do norte em 28 de janeiro de 1985. Porque há de haver uma explicação que justifique a reunião de Ray Charles, Michael Jacskon, Bob Dylan, Stevie Wonder, Brune Springsteen, Diana Ross, Tina Turner e mais duas dezenas de artistas estadunidenses num mesmo estúdio durante uma madrugada inteira. É tão incrível que a certa altura, depois que Diana Ross começa, muitos passaram a pedir autógrafos entre si. A Noite que Mudou o Pop é um doc saboroso da Netflix sobre a gravação de “We are the world”, a canção que visava arrecadar dinheiro para “a África”, aquele lugar distante e impreciso, que os ianques (e quase todo mundo) tratam como um país e sobre o qual sabem muito pouco, apenas que precisa de ajuda. White savior no talo e em escala nacional. Mas nesse post eu não estou interessada na crítica política da ação, e sim na monumental reunião de talentos daquela noite, orquestrada por Quincy Jones, a partir de uma iniciativa de Lionel Richie e MJ. Tem momentos emocionantes, como a homenagem espontânea a Henry Belafonte, momentos tensos, engraçados, magistrais. Acabei até recuperando alguma simpatia pela canção, que eu julgava não conseguir mais ouvir depois de ter vivido aquele ano em que ela tocava 24x7.
O puto do algoritmo - que eu acho que a gente tem que começar a chamar de ‘a programação’, pra lembrar que é a decisão de alguém, e não um E.T. - às vezes acerta. Numa dessas, me indicou o canal “A modista do desterro” (que eu fui indicar pra fridinha e tive que explicar o significado das duas palavras). Desde então tenho passado alguns cafés da manhã ou lanches da tarde - aquela paradinha que você dá em frente à TV sem querer demorar demais, mas querendo ver algo - aprendendo sobre como se lavava a roupa branca na Regência ou do que eram feitos os corpetes, ou ainda como se vestiam os que não aparecem em pinturas da época - os pobres, né? Pauline Kisner é carismática e parece muito bem informada. Vê a moda, entre outras coisas, como uma linguagem, uma narrativa que fala sobre tudo isso aí que nos interessa e incomoda, como desigualdades, patriarcado, convenções sociais. Uma delicinha.
Eu sou muito fã da Rádio Novelo Apresenta - mais uma droga que a Monix me apresentou e me tornou adicta. Não, nem sou, às vezes perco um episódio ou outro (mas sempre volto pra acertar), e acontece de alguns não atingirem a excelência. Mas aí tem um como o Cápsula do Tempo, que eu termino de ouvir querendo 1) trabalhar lá; 2) parabenizar todos os envolvidos e 3) falar pra todo mundo ouvir. Ele vai se desenrolando como uma cebola, a segunda história saindo de dentro da primeira, e ainda muitas outras lá nos extras do site. Um primor. Emocionante.
Na semana em que o tuíter foi de arrasta vi minha filha, 20 e alguma coisa, reclamando muito brava porque não tem mais onde ler! Achei bem curioso, um tanto inusitado. Senti falta também, mas confio no Jeff Goldblum em Jurassic Park, a vida acha um caminho. :-)