🗣️Fala, Helê 👩🏾🦳
*Estivemos sumidas, né? La Otra pode meter atestado, já que, d’près todo mundo, covidou - mas já tá bem, gracias. Já eu me enrolei mesmo, gente, foi mal. Mas vim aqui trocar uns dedos de prosa, antes que o carnaval me pegue nos braços e…sabe-se lá como me devolverá…
Aqui, como você deve imaginar, já estou em estágio de carnaval um dos estados excepcionais da cidade, junto com estado de atenção, alerta etc. Sendo que nesse a urgência é brincar, ser feliz, interagir com todo e qualquer bloco ou simples aglomeração alegre que atravesse seu caminho. Inclusive é considerado de grande indelicadeza não descer se um bloco passar em frente à sua casa. É de bom tom que, no mínimo, acene sorridente da janela.
No domingo, 4 de fevereiro, fui ao show do Zeca Pagodinho no Engenhão. Talvez o melhor seja mais correto dizer que fui ao culto do Zeca Pagodinho - e saí ungida. Nem o temporal furioso que caiu umas horas antes do show arrefeceu a energia e o amor do público, que já se emocionou de saída com um palco belíssimo, reproduzindo uma favela multicolorida. Na abertura, uma sequência de imagens que pediu licença e passagem a sambistas de ontem, hoje e sempre. Foi lindo demais ver um estádio de futebol inteiro cantando samba e batendo na palma da mão, como uma mega roda de samba, uma gigantesca gira do tamanho do talento do Zeca e da paixão de um público que o acompanha há quarenta anos. Foram muitos momentos de emoção; para citar apenas dois : “Ogum”, com a participação de Djonga, e Alcione emocionando Zeca às lágrimas. E tudo isso compartilhado com minha filha, aquela que quando tinha 3 anos e foi informada que iria à Feijoada da Portela respondeu: “Zeca Pagodinho?” Ali ela entendeu tudo - e se converteu.
Outra lindeza do show: as belíssimas pinturas de Manuela Navas, em perfeita harmonia com a música de Zeca. Se você não conhece ainda, dá uma olhada no Instagram dela.
Falei rapidamente em favela, e queria deixar registrado aqui que achei muito significativo que o IBGE tenha voltado adotar essa palavra, considerando, entre outras coisas, a opinião dos moradores desses espaços. Acho que é mais um dos muitos indícios de que algumas coisas importantes estão mudando na sociedade. Não fosse véspera de carnaval, eu me debruçaria mais sobre o tema. Quem sabe volte a ele…
Se quiser fazer um esquenta e entrar no clima, a série "Enredos da Liberdade - o grito do samba pela democracia", disponível no GloboPlay é bem didática, e tem um plus a mais pra quem é da minha faixa etária de Gaza, porque lembra carnavais daquela fase em que a gente começou a prestar atenção e ter lembrança dos desfiles.
No mais, evoé Momo, bom carnaval para todo munda e lembre-se: não tenha juízo, mas se cuide.
🗣️Fala, Monix👩🏻
Muitos anos atrás eu fiz uma viagem com uma pessoa da minha família, ou seja, alguém com bastante intimidade pra me dar uns puxões de orelha sem fazer cerimônia, e lá pelo meio da nossa temporada ela me disse para prestar atenção em como as pessoas eram muito mais solícitas com ela que comigo. O motivo? Eu sou uma pessoa desligada e introvertida (depois explico melhor esse ponto), e por isso raramente cumprimentava alguém pelos caminhos onde passávamos. Como nunca tive a intenção de parecer mal-educada, comecei a me condicionar a dar bons dias e afins sempre que chego ou saio de um lugar, de preferência acompanhados de um sorriso. Pode parecer bobagem, mas minha relação com o mundo mudou significativamente depois disso.
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Até bem pouco tempo atrás eu não sabia que o oposto de uma personalidade extrovertida não é a timidez, e sim a introversão. Quando comecei a entender essa diferença, muita coisa fez sentido. Uma pessoa introvertida (como eu) precisa de momentos de isolamento e usa a solidão para recarregar as energias. Outra coisa: estar em ambientes onde não conhecemos bem as pessoas e as conversas são mais superficiais nos exige um esforço emocional muito grande, e isso gera um cansaço que pode durar dias, dependendo da situação.
Sou introvertida, mas nem um pouco tímida, foi o que acabei entendendo. Por exemplo, não me importo de falar em público e quando estou entre pessoas amigas falo alto, rio à vontade e converso sem parar por longos períodos de tempo, sem problema nenhum. Mas ir a uma festa com música alta onde não conheço quase ninguém é, para mim, uma forma de tortura.
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Depois que cumprimentar as pessoas se tornou um hábito, isso já não me exige esforço consciente nenhum. Chego no prédio onde trabalho e dou bom dia aos seguranças; saio e dou boa noite. Sempre. Isso teve um efeito inesperado: eu passei a observar as diferentes maneiras como as pessoas respondem aos cumprimentos, e é uma coleção no mínimo divertida. Tem as brasileiríssimas “vai com Deus” e “fica com Deus” (não se se vou ou fico, mas como Deus é onipresente acho que tanto faz). Tem os relacionados às atividades, como “bom trabalho”, “bom descanso”, ou ao calendário, como “boa semana”, “bom feriado”, “bom fim de semana”, e hoje certamente ouvimos muitos “bom carnaval” por aí.
Mas o que eu mais gosto é a expressão “bom retorno”. Afinal, não importa de onde viemos, sempre estamos voltando a algum lugar.