🗣️Fala, Monix👩🏻
Esses dias ouvi um episódio do podcast UOL Prime que fala sobre essa história das farmácias pedirem nosso CPF pra tudo. Eu já tinha lido algumas coisas sobre esse assunto, por conta das óbvias questões de privacidade envolvidas. Mesmo assim fiquei assustada com o tamanho do problema. A reportagem conta que uma rede de farmácias é dona também de uma empresa de propaganda (!), e o farialimer que comanda o negócio fala sobre o potencial de lucros com a venda dos nossos dados como se fosse uma coisa realmente muito legal (nos dois sentidos da palavra).
A gente já sabe que nossos dados estão aí pra jogo? Sim. Os hackers já roubaram tudo quanto é informação de todos os brasileiros da face da terra? Claro e evidente. Mas isso não significa que vale tudo quando se trata de dados, especialmente dados sensíveis (como as informações de saúde das pessoas). Só pra ficar claro, as farmácias estão negociando informações sobre que tipo de remédios e produtos de higiene a gente compra, provavelmente com o objetivo de aplicar modelos preditivos e “adivinhar” o que vamos precisar comprar em seguida. Muito bacana, só que não.
Lembro que em 2001 eu fiz uma série de matérias sobre bioética para um cliente. Na época se falava muito sobre transgênicos e clonagem, e havia uma conversa importante sobre quais limites a sociedade deveria/poderia impor à pesquisa científica. Acho que o mesmo debate precisa ser feito agora em relação ao desenvolvimento tecnológico, e não é só dos “perigos da inteligência artificial” que estamos falando. Um ponto interessante levantado pela repórter do UOL é que nossos limites da ação indivual são muito restritos… não dá para abrir mão de descontos significativos em remédios caros em nome de preservar o direito à privacidade. No dia a dia, é uma briga quase impossível de ser comprada. Mas se a gente começar a falar do assunto, talvez aqueles com poder de decisão comecem a se mexer para fazer alguma coisa.
É sempre bom lembrar que "ciber" é uma palavra grega que significa algo como "controle", então precisamos tomar cuidados, sim, para que não nos vejamos à mercê de ciberestados ou cibercoporações. Nessas horas, cabe ao jornalismo, aos cientistas sociais, aos políticos, aos advogados, etc, fazer esse debate acontecer, dizer para empresas e governos quais são os limites razoáveis para o uso dos nossos dados e, principalmente, o que consideramos como privacidade. Essa é uma definição que precisa ser atualizada, por conta das mudanças sociais e técnicas dos últimos anos. (A propósito, e em nome da transparência blogueira-leitores, admito que já pensei bem diferente. Mudei de opinião, e muito.)
Na editoria antes tarde que mais tarde:
Escrevi meio rapidinho sobre Oscar e acabei esquecendo de comentar algo que a Dedéia, nossa amiga e leitora atenta, não deixou escapar: foi uma feliz surpresa ver os cinemas cheios de novo nas semanas antes da premiação. Espero que seja uma volta de verdade, e não um soluço.
A família real britânica pede privacidade (olha ela aí de novo), eu até tento ter empatia, mas é difícil respeitar quando eles nos proporcionam tantos momentos de entretenimento gratuito e de qualidade. A saga do desaparecimento da princesa rendeu as melhorias teorias da conspiração dos últimos tempos (e olha que estamos na era dos malucos de chapéu de papel alumínio, mas enfim), com direito a photshop disasters e tudo. Aí hoje a Katelinda aparece num vídeo sozinha (maridão tá com a marquesa de chololocoisa?), contando que teve câncer mas sem dizer nada sobre tratamento, prognóstico, etc. Galera vai continuar especulando? Of course. No fim das contas, o grande tema dessa treta é o choque entre o mundo real de 2024 — em que mostrar a intimidade dos olimpianos é cool e até desejável, em doses controladas — e a mentalidade palaciana que parou na ideia de perfeição da mídia do século XX.