Quem precisa do boi da cara preta?
Ou: como reinventar as histórias de ninar depois dos cinquenta
🗣️Fala, Monix👩🏻
Reza a lenda da minha família que eu fui uma bebê que não queria dormir de jeito nenhum. Meu pai conta que quando eu tinha um ano, mais ou menos, ele resolveu adotar uma tática para me “vencer pelo cansaço”… que consistia em pegar a bebê notívaga e ficar sacudindo sem deixá-la dormir, até pedir arrego, com uma ideia meio torta de que isso, sim, ensinaria uma lição àquela pirralha. (Em defesa do meu pai, ele era muito novo quando eu nasci, então essa pedagogia dramática talvez fosse um retrato da pouca experiência de vida da pessoa.)
Acho que o único efeito desse método foi que ninguém dormiu naquela noite, mas embora eu estivesse presente não posso afirmar por motivo de que a primeira infância a gente sempre esquece.
Fato é que sempre fui notívaga e durante toda a minha vida adulta lutei com a dificuldade de pegar no sono. Até que recentemente fiz um tratamento médico para outros problemas, não diretamente relacionados a insônia, e — acho eu — um dos remédios que tomei teve o efeito inesperado de regular minha hora de dormir. Continuo dormindo tarde e sendo totalmente contra acordar cedo, mas agora finalmente consegui criar uma rotina de sono.
Deito mais ou menos no mesmo horário e leio um pouco. Mas pra entrar mesmo no reino de Morfeu, não tem nada melhor do que colocar um podcast na caixinha de som, em volume bem baixo, como se fosse alguém contando uma história no meu ouvido. Minha primeira ideia foi buscar um podcast feito pra isso, mas por algum motivo inexplicável não funcionou… talvez porque eu já começava a ouvir sabendo que o texto não era o objetivo em si, mas sim a voz, só sei que não conseguia acompanhar a leitura e perdia logo a paciência. Daí tentei colocar episódios de programas que me interessam, o que levou a outro problema, esse bem óbvio: não dormia porque ficava interessada demais no que estavam dizendo.
Enfim descobri uma solução que pra mim se mostrou muito boa: escuto programas que sejam minimamente interessantes, mas não o suficiente pra que eu queira saber como terminam. Nessa linha, pego podcasts com episódios curtos, como o História Em Meia Hora ou o Noites Gregas. Em último caso, apelo para o Felipe Castanhari ou o Vinte Mil Léguas. O melhor dessa tática é que dá pra repetir episódios em que dormi no meio, como se fossem novos 😉
Ontem eu estava conversando com a Helê sobre outro assunto e acabamos falando sobre esse hábito de usar o podcast como história de ninar. Descobri que ela também tem seus preferidos, o Petit Journal e o Xadrez Verbal.
Uns tomam drogas pesadas, outros maracujina. A gente apela para outros esquemas.
Hahahaha adorei. Eu uso o aplicativo NR Natural reader e coloco timer e textos que estou lendo. No dia seguinte releio pq durmo na certa!