Política ao pé do ouvido
Andamos escutando umas coisas bem interessantes aí pelos tocadores. Quer saber quais?
🗣️Fala, Monix👩🏻
Aprendemos com Harry Potter que para espantar um bicho papão o feitiço que se usa é o riddikulus: com ele a gente transforma aquilo que nos assusta em algo risível. Me parece uma boa fórmula para derrotar o medo.
Dia desses eu tava procurando um podcast novo (me habituei a ter alguém conversando comigo enquanto faço alguma tarefa repetitiva que não exija muito raciocínio) e descobri Bunga Bunga, que conta a história do magnata tóxico italiano Silvio Berlusconi.
* Um aparte necessário: essa história do Berlusconi deveria ter servido como um cautionary tale sobre o fato de que a operação Mãos Limpas levou ao descrédito da política em geral e dos políticos em particular e o resultado foi a eleição de um extremista de direita com uma estranha vocação para a bizarrice. (Essa descrição parece familiar? Não é mera coincidência. Sérgio Moro sempre admitiu ter se inspirado no aparato jurídico italiano; por que catzo deveríamos esperar resultados diferentes?) *
Continuando: o podcast conta uma história terrível, com consequências que reverberam até hoje na Itália e, sabemos bem, no resto do mundo. Não deve ser por acaso que o podcast tem versões em inglês e português, além do idioma original — tivemos aqui e nos Estados Unidos nossas versões temporãs e comicamente trágicas do fenômeno.
Só que a escuta, apesar de ser bastante informativa, é leve, divertida, quase histriônica. A trilha sonora é um personagem, provavelmente o bobo da corte. A narração é irônica — não, mais que isso, é debochada.
Berlusconi não teve graça nenhuma. As consequências de sua chegada ao poder, menos ainda. Mas se temos alguma arma contra essa gente sinistra, eu acredito no poder do riso. Bora esculhambar.
🗣️Fala, Helê 👩🏾🦳
📻 Quero escrever sobre podcasts há um tempão e nunca consigo. Porque gosto muito, tenho várias coisas a comentar… então começo e me acho prolixa, exagerada, penso que os podcasts falam por si, literalmente. Então desisto. Mas aí vem a vontade de novo. Talvez em pílulas eu resolva minha questão.
👨🦲Esta semana terminou o excelente “Alexandre”, da Thaís Bilenky, que esmiuça a vida pregressa do Xandão e sua atuação onipresente nos últimos anos na política brasileira, das poucas autoridades que puseram um freio no Messias e no bolsonarismo. É tão bem feito — pesquisa, trilha sonora, roteiro — que eu quase esqueço o sotaque paulistano da Thaís que me irrita no Foro de Teresina. O capítulo final é para guardar e conferir daqui a alguns anos, pelo tom profético. A ver.
🤼♂️“Collor X Collor” ainda está em andamento, e eu tô gostando tanto que às vezes arranjo mais coisas para fazer só pra ouvir mais um pouco. Fazendo o que a narradora, Évelin Argenta, chama de sociologia do babado, resgata a trajetória e tragédia do governo de Fernando Collor, embebido em um saboroso enredo que se diz shakesperiano, mas é mesmo novelesco daquele tipo bem baixaria, dedo no c* e gritaria. Irmãos invejosos, filhos preferidos — e os preteridos —; cunhadas arqui-inimigas e, no meio de tudo, um Brasil. Olha, até pra quem viveu, é espantoso lembrar.
🧠Aliás, com “Collor x Collor” eu descobri uma nova razão para curtir documentários. Eu sempre gostei do gênero para aprender; agora, na Casa dos 50, eles servem para relembrar.