Podcasts - duas novidades e um clássico
Minhas impressões sobre esses netos do rádio que entraram definitivamente na minha rotina
🗣️Fala, Helê 👩🏾🦳
A Rádio Novelo Apresenta segue sendo um dos melhores podcasts do mercado, com histórias que, como diz o slogan, nós não sabíamos que precisávamos ouvir. Há narrativas interessantíssimas, como o episódio “Minha família é um circo”, que me apresentou às intrigantes faquirisas; ou aquele que conta sobre o “Programa de índio” que o Ailton Krenak comandava na rádio da USP. Mas acho que além da curadoria de boas histórias, são os roteiros a preciosidade maior do Apresenta. Buscam sempre uma maneira original, sedutora e inesperada de narrar fatos, lembranças, acontecimentos. Sempre de uma maneira envolvente, fazendo você submergir dentro daquele universo da história - até contra a vontade.
Na semana de 5/12, por exemplo, eu li, acho que na newsletter deles, que o tema envolvia os assassinatos cometidos por policiais cariocas vitimando crianças. E minha primeira reação foi “Essa semana vou pular”. Mas então o episódio começou automaticamente depois do final de outro podcast, eu estava longe do celular e comecei a ouvir sem requer. E a realidade das crianças da Maré contada por elas me fisgou, porque nunca tinha olhado para as violências que elas sofrem pela perspectiva delas - em toda sua pureza, brutalidade, ingenuidade, todas as potencialidades que crianças têm. Claro que chorei mais de uma vez durante o episódio - chorei largado com a homenagem póstuma da Maria Vitória para seu irmão assassinado, envolvendo futebol, essa linguagem de amor. Mas já estava enredada também pelas potências e recursos que aquelas pessoas tiram, não sei de onde nem como, para sobreviver. O programa sempre dá um jeito de surpreender, pegar pelo contrapé, algo que eu valorizo cada vez mais.
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Fui ouvir o “Calma urgente” por causa do excelente nome e porque tinha o
Gregório Duvivier - eu sou uma viúva do Greg News, uma daquelas coisas inspiradas nos gringos que a gente faz melhor que eles. Gostei de cara da química dos apresentadores - além do Greg, o Bruno Torturra e a Alessandra Orofino -, e da proposta de debater um tema em profundidade, indo até o caroço da questão. Um pouco como o Natuza Nery faz em “O assunto”, mas de um modo ainda mais aprofundado. Acho que cansei dos podcasts semanais que tentam dar conta dos acontecimentos importantes do período e ficam todos muito parecidos. Por outro lado, mesmo se detendo em um assunto apenas eles vão girando para vários lados, mostrando diferentes ângulos e desfolhando tantas camadas que acabam falando de assuntos diversos. Foi lá que ouvi primeiro sobre o Rick Azevedo e o movimento Vida Além do Trabalho (VAT). Também foi o trio que me a presentou o conceito de leitura profunda e os perigos de perdê-la em função do tempo de tela excessivo. Um trio muitíssimo bem informado, simpático, que eventualmente discorda entre si sem perder a harmonia e o humor. Entrou na minha lista de preferidos rapidamente.
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Não sei exatamente como eu fui para no podcast “Livros no centro”. Acho que também fui atraída pelo título; uma vez lá, fui seduzida pelo episódio intitulado “Diadorim e eu”, claro. Um personagem extraordinário do meu livro favorito, Grande Sertão Veredas, nunca que eu havera de deixar passar. Dizia lá que tinha a Miriam Leitão no episódio e dei play sem saber muito mais. O que se seguiu foi um depoimento sofrido mas também apaixonado da jornalista sobre sua relação com os livros durante toda a sua vida, e de como eles, de certo modo, salvaram sua vida quando ela foi presa pela ditadura ao 19 anos, grávida do primeiro filho. Leitora voraz numa família de leitores, Miriam sofreu por não poder ler absolutamente nada durante o tempo em que ficou presa. Uma de suas estratégias de sobrevivência foi “reler” mentalmente seus livros favoritos. Assim, repetia pra si mesma : “Nonada. Tiros que o senhor ouviu…”, o início do livro de Guimarães Rosa. Ou trechos de “Cem anos de solidão”, de Gabriel Garcia Marques. É um depoimento impressionante pela resiliência da Míriam, por explicitar o processo pelo qual ela passou até finalmente contar a sua história e, claro, pela força dos livros pontuando toda a sua trajetória. Vale demais ouvir, independente das posições econômicas e políticas de Míriam; é bem maior que isso.
Depois desse, ouvi também “A livraria na colina”, sobre uma mulher e seu sonho de abrir uma livraria num vilarejo com menos de 200 habitantes. Outra história saborosa e interessante, e novamente aqui o título do podcast cumpre o que promete: o enredo tem sempre os livros como mote central - e eu amo quando as pessoas cumprem exatamente aquilo a que se propõem.
Amei esse texto. Eu também sou uma ouvinte entusiasmada de podcasts e as dicas de vocês já me apresentaram preciosidades. A Rádio Novelo foi uma delas, agora é dos meu favoritos. Continuo fiel também ao Viracasacas, minha fonte de reflexão política preferida, e outros tantos. Terei que incorporar o Calma Urgente a partir de agora!
A Rádio Novelo é um dos meus favoritos. Ali há algo de mágico mesmo. Adoro como intercalam temas muito duros com histórias simples, que nem tem tanta graça, mas que são um respiro na semana.