Caetana Maria Damasceno celebrou seus bem-vividos 80 anos, e eu tive a honra de estar entre os que beberam, dançaram e brindaram com ela. Foi um momento de emoção para os envolvidos: todos nós, reunidos naquele sobrado ao lado da Pedra do Sal, revisitamos um pouco da nossa própria trajetória e das interseções com essa mulher exuberante. Eu poderia oferecer a ela a dedicatória que li num banco de praça em Nova York: “Ao longo de sua vida, tudo que ela tocou, floresceu”. (Beijo pra G., outra geminiana fundamental, que me ensinou a ler a cidade em lugares insuspeitos). Todos que conhecemos Caetana Damasceno somos pessoas melhores por isso - quer esse encontro tenha sido num fugaz bloco de carnaval, na batalha da luta política, em sala de aula ou no Amarelinho da Glória.
Eu fui à festa de 50 anos de Caetana e ela foi na minha - o que dá uma ideia do nosso tempo de estrada. Conheci a Cae no fim dos anos 80, quando eu e ela trabalhávamos na mesma ong - um tempo distante em que a gente tinha que explicar essa sigla pras pessoas. Ela já era uma mulher notável; eu, uma garota terminando a faculdade e descobrindo o mundo. Ela foi responsável pelo meu letramento racial avant la lettre, já que na época a expressão ainda nem existia. Foi com ela que ouvi falar pela primeira vez em ação afirmativa, cotas, feminismo negro e os outros conceitos todos. E também aprendi as melhores frases (“Vamos pro jogo que o trabalho é roubo!”), alguns ensinamentos difíceis (“O amor, às vezes, precisa ser severo”) e lições inestimáveis apenas observando essa mulher se mover na vida ao longo dos anos, entre conquistas, perdas, dores, prazeres, desafios e alegrias.
Testemunhamos várias mudanças no campo das relações raciais e no Brasil em geral. Vivemos muitas coisas juntas e todas as outras em paralelo, porque nunca nos afastamos a ponto de nos perder de vista. Eleições, impeachments, filhos crescidos, namoros e casamentos findos, carnavais intermináveis e históricos. E Caê, ou Caetaninha - como chamava D. Bituca, sua mãe querida e brava, e seu pai, o doce Damasceno - sempre ali, um farol na minha vida. Caetana que eu vi virar doutora mas será pra sempre minha mestra na vida. Mana Caetana porque, apesar da sabedoria e da sagacidade, da nobreza no porte e no caráter, nunca se coloca acima de ninguém: está sempre próxima, ombreando os amigos, irmã para o que for preciso, na alegria e na tristeza, e ensina a todo nós, sempre, caetanear o que há de bom! Sister, you’ve been on my mind - and you will always be!
Lindas, lindas. <3
Viva Caetana!