🗣️Fala, Monix👩🏻
Você já teve a sensação de que de repente todo mundo está falando do mesmo assunto?
Os estudiosos da comunicação explicam que, ao contrário do que pensa o senso comum, a imprensa não nos diz o que pensar (ou seja, a gente não é tão influenciável pelo que diz o William Bonner), mas sim sobre o que pensar. Deve ser por isso que na minha bolha esta semana só se falava na lista do New York Times dos 100 melhores livros do século XXI (até o momento, claro, porque ainda tem muito século pela frente). Minhas amigas muito sabidas compartilharam suas listas com um monte de leituras.
Como semana passada eu defendi a ideia de fazer as coisas meio mais ou menos, quero mostrar para vocês minha performance pífia, com a humilíssima marca de cinco livros.
Detalhe que desses cinco, dois são quadrinhos e dois são da tetralogia napolitana da Elena Ferrante. O que deve significar algo, não sei bem o quê. Na verdade poderiam ser sete, mas dois eu abandonei no meio por motivo de muito chatos.
Lá nos tempos idos da internet a manivela, rolou uma brincadeira que não sei bem como nos levou à conclusão de que eu sou menos rica do que pareço. Agora chego à conclusão de que sou bem menos culta também.
E se me dão licença, vou ali terminar a maratona de The Big Bang Theory, que estou assistindo nas horas vagas — aquelas em que eu poderia estar lendo esses livros todos, mas não estou.
🗣️Fala, Helê 👩🏾🦳
Esse já não é mais o assunto do momento, mas me deixa: quero falar sobre o vídeo da americana alucinada por Machado de Assis e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Acompanhei fascinada os “efeitos colaterais” dessa história. Foram muitas discussões, que variaram desde a nossa viralatice incurável até o argumento de que a situação prova o quanto o colonizador perde desmerecendo a cultura dos “colonizados”. Twitter, terra de extremos.
Eu também fui afetada: aproveitei uma promoção online e comprei três Machados por 35 dinheiros! Além das memórias defuntas, adquiri “Quincas Borba” e “Dom Casmurro”. (Li este último na faculdade de Jornalismo — era regra, não sei hoje; a edição de Brás Cubas guardava que tive que jogar fora: quando emprestei pra minha irmã, foi junto uma crise de rinite, tão velho e empoeirado era o livro).
Mas voltando ao Brás redescoberto: minha filha, que não é uma leitora frequente, demonstrou interesse pela obra depois de decorar e repetir várias vezes pela casa a dedicatória com o sotaque carioca “Ao verme que primeiro roeu as friax carnex do meu cadáver”. Que ela aprendeu por causa do meme do meme: apareceram várias narrações da dedicatória com diferentes sotaques regionais.
Ouça aqui:
https://x.com/i/status/1806418939599110599
A querida P. e a filha começaram a ler Brás Cubas juntas, no tablet, divertindo-se não apenas com o romance mas também na busca e descoberta das palavras. E a Rádio Novelo fez uma edição do podcast Rádio Novelo Apresenta em que a tradutora do livro, Flora Thomson-DeVaux, conta sua história com o Bruxo do Catete e entrevista a simpaticíssima Courtney Novak, responsável por tudo isso. Essa senhora, uma americana qualquer, uma leitora entusiasmada, que um dia resolveu fazer um tik tok e desencadeou uma reação espetacular e imprevista, gerando inclusive este post — e eu nem frequento o TikTok!
Gosto da teoria da Flora, de eclipses machadianos que, de tempos em tempos, jogam luz sobre Machado de Assis, tornando-o conhecido para um número maior de pessoas. Mas permaneço intrigada com o que faz algo viralizar (descartados, claro os robôs e impulsionamento pago). Vi um ou dois vídeos de booktubers (!) comentando o fenômeno e dizendo que nem é tão raro que, volta e meia, apareça um estrangeiro deslumbrando com o Brasil no “bairro da literatura do YouTube”, disse um deles. Mas a Courtney, sabe-se lá porque, furou muitas bolhas, foi pauta da grande imprensa, caiu na boca do povo, por assim dizer. Sigo intrigada — com meu exemplar de Brás Cubas agora na cabeceira.
PS: Parece que a Courtney pirou o cabeção mesmo com a gente: fez um vídeo essa semana totalmente entregue à Clarice Lispector , perguntando o que colocam na nossa água. :-)
Helê, vai ver depende da água que você bebe eheheh