🗣️Fala, Monix👩🏻
O evento histórico que no Brasil conhecemos como Revolução dos Cravos, aqui em Portugal é chamado com mais intimidade: os portugueses falam simplesmente do 25 de abril (pronunciado com apóstrofe, "o 25 d'abril"). O movimento que culminou com a derrubada do regime salazarista, na primavera de 1974, é considerado único no mundo. Para que o país se livrasse de uma ditadura que durou mais de quarenta anos, transformando-se em uma social-democracia moderna, foi necessário percorrer um caminho que começou com um golpe militar diferentão: eles prometeram que em um ano convocariam uma assembleia constituinte e eleições diretas... E cumpriram. Nunca ouvi falar de nada parecido em nenhum outro país, se existir por favor me contem. No primeiro momento houve uma guinada à esquerda e uma tentativa de implementar um regime comunista em moldes bem ortodoxos, mas em 25 de novembro de 1975 houve um segundo movimento militar que consolidou a democracia representativa em Portugal. Tudo isso aconteceu com um saldo de menos de dez mortes. Um dos líderes desse movimento chama-se Vasco Lourenço. Esta semana eu tive a honra de apertar a mão dele.
Alguns cravos desta primavera
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Por uma dessas curvas interessantes que a vida faz, eu, que nasci nesse mesmo dia 25 de abril, quatro anos antes de a revolução marcá-lo para sempre por aqui, tenho como companheiro de vida há quase 18 anos o filho de um dos homens que contribuiu para a derrubada da ditadura salarazista. Bem antes de 1974, houve um movimento chamado Revolta da Sé, frustrado por conta de um vazamento de informações, que teve como consequência o exílio do meu sogro para o Brasil. O resto é história.
Jaime Conde, meu sogro, em homenagem póstuma ao amigo e companheiro de lutas Amândio Silva (Lisboa, 22 de abril de 2024)
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Este ano completaram-se 50 anos da Revolução dos Cravos e viemos, a família toda, celebrar em Portugal. Aqui "abril" significa muitas coisas, basta dizer "continuar abril", "celebrar abril", é algo que se entende de imediato. Falar de abril é falar de construir, todos os dias, uma sociedade justa, democrática e livre. Nas comemorações e manifestações grita-se "25 de abril sempre - fascismo nunca mais!", um mote cheio de significados para um povo que viveu sob um regime fascista durante quase cinco décadas e em seguida conseguiu implantar e consolidar uma social-democracia tão sólida quanto é possível nesta quadra da história, mas que bem ou mal já durou mais tempo que a ditadura que o antecedeu. Sopram por aqui uns ventos estranhos de extrema direita, mas ontem fizemos (digo na primeira pessoa do plural porque eu estava lá) a segunda maior manifestação de rua da história de Portugal, perdendo apenas para o Primeiro de Maio de 1974, dias depois da revolução. Não é pouca coisa.
Caramba, Monix. Era isso que eu estava perdendo. Chorei aqui. Que texto incrível, que momento - ia dizer que indescritível - mas percebi a contradição na hora.
Maish qu’bonita! Maravilhosa pelos seus olhos!❤️